terça-feira, 16 de setembro de 2008
Redes sociais para bebês são nova onda na web
Seria fácil presumir que o primeiro mês de vida de Cameron Chase seguiria o monótono ciclo de comer-dormir-evacuar que todos os pais conhecem bem. Mas quem tiver lido seu perfil atualizado no Totspot, um site que vem sendo definido como "o Facebook das crianças", discordaria. Cameron, de Winter Garden, Flórida, já se divertiu à beira da piscina com os avós, prestou atenção à passagem da tempestade tropical Fay por perto de sua casa e proclamou que considera o quadro abstrato de Kandinsky cuja reprodução seus pais penduraram sobre a cama "muito estimulante!"
Natural de Winnipeg, Canadá, Dominic Miguel Alexander Carrasco, de sete meses, usa sua página no Totspot para falar com a sua turma de suas obsessões. O apelido de que ele mais gosta? Buddy ou Big Boy. Seu livro predileto? "Green Eggs and Ham". Sua comida favorita? Para surpresa de ninguém, "leite da mamãe".
É claro que esses bebês tão ocupados em criar redes sociais não postam seus diários ou fazem amizades com outros bebês por conta própria. Quem está por trás da cortina são os pais sonolentos, que começam a dar forma à identidade de seus filhos na rede antes mesmos que eles deixem de usar fraldas.
"Parece meio estranho personalizar a coisa na voz dele e promover conexões com outros bebês", disse Kristin Chase, 29, a mãe de Cameron, que atualiza sua página a cada dois dias. Mas considerando o interesse dos parentes em informações sobre o menino, ela se diverte em manter o catálogo das atividades do filho de 10 semanas de idade em um lugar acessível a todos via web. "Conhecendo o pai dele como conheço, não vai demorar para que ele comece a blogar sobre si mesmo", ela diz, em referência ao marido, Nathan, 29, que participa de um site ainda em fase beta, o Odadeo, que permite que pais mantenham blogs em nome de seus bebês e que conheçam outros pais.
Podemos definir o serviço como uma conveniência ou como uma vontade excessiva de informar demais ao mundo sobre as aventuras de um bebê. Mas uma série de sites que entraram em operação recentemente, entre os quais Totspot, Odadeo, Lil'Grams e Kidmondo, agora oferecem aos pais uma chance de deixar de lado os e-mails sobre, digamos, a primeira jornada do bebê recém-nascido à casa, e em lugar disso convidar amigos e família a aderir a um desses sites e contribuir para a formação de uma rede que conectará o bebê às suas vidas.
"Trata-se de um modelo interessante", disse Amanda Lenhart, especialista em pesquisas do Pew Internet & American Life Project. "Todo mundo pode decidir quanto ou quão pouco deseja saber sobre um bebê, o que evita aquela situação de receber e-mails demais sobre a maravilhosa criança de alguém, e os pais podem decidir o quanto desejam compartilhar sobre a vida de seus filhos, em termos mínimos e máximos".
Mas será que o mundo realmente precisa de redes sociais para bebês? Alguns empresários e muitos pais acostumados a usar a Internet acreditam que sim. Até este mês, por exemplo, o Totspot já contava com 15 mil usuários, e o Kidmondo e o Lil¿Grams, iniciados no ano passado, já tinham milhares de usuários em todo o mundo.
"Nós temos visto uma maré alta de interesse paterno em redes sociais", disse Adam Ostrow, editor do Mashable, um blog sobre sites de redes sociais. "Recentemente percebi que muitos usuários do Facebook começaram a adicionar crianças aos amigos que constam de seus perfis".
Ostrow considera que os posts dos pais sobre seus filhos representem "uma evolução natural" ante, por exemplo, usar o Twitter para manter o mundo atualizado sobre o que eles mesmos fazem. "Estamos vivendo um momento muito favorável à paternidade", disse Pamela Paul, autora do livro Parenting, Inc.. "Isso se reflete tanto em nossa cultura offline como na web. Todos nós temos feito muito barulho a respeito".
Tanto que alguns dos primeiros a aderirem a esses sites logo se tornaram ventríloquos que se comunicam em nome de suas crianças, mesmo aquelas pequenas demais para falar. Com uma rápida visita a um perfil divertido, os pais também podem escolher os coleguinhas de brincadeiras de seus filhos, mais ou menos como as pessoas escolhem paqueras.
Quando estava grávida, Erin Carrasco, 25, mãe de Dominic, fez amizade na web com outras futuras mamães, e os filhos delas se tornaram parte da rede de Dominic no Totspot. E agora, nas quintas-feiras, alguns desses bebês (e mamães) se unem a Carrasco e Dominic em encontros reais, em um grupo cujo tema é a saúde dos bebês.
Julie Ward, 38, é menos aventurosa com relação às pessoas com quem faz amizade em nome de seu filho, Dixon. Ela mantém a rede de Dixon restrita a pessoas que ela conhece fora da Internet, e usa a página dele no Totspot para registrar os momentos passageiros de seu desenvolvimento.
Um dos marcos: duas semanas atrás, ele devorou seu primeiro biscoito Oreo. "Até mesmo recolher esses pequenos detalhes me ajuda a lembrar o quadro geral desse momento na vida do meu filho", ela diz, "ainda que minha maior preocupação, além de imaginar se poderemos imprimir tudo isso para que Dixon um dia veja tudo em papel, seja a questão da privacidade, que até o momento parece estar indo bem".
Os fundadores dessa nova leva de sites para bebês, apesar de todas as suas aspirações no que tange a promover a formação de redes, permitem que os pais selecionem quem está autorizado a instalar links nos perfis. O Totspot até mesmo oferece um recurso que permite que usuários acompanhem quem visitou a página de seus filhos, e quando.
Daniel Hallac e sua mulher Carole, co-fundadores do Kidmondo, acreditam que um dia as crianças mesmas visitarão o site. "Nosso filho Shaun tem apenas um ano e meio, e por isso ainda não se interessa tanto", diz Hallac. "Mas temos uma página em nosso site para Davide, nosso filho mais velho, que tem seis anos. Ele sempre a visita e adora ler sua história lá. Ocasionalmente pergunta coisas como por que não escrevemos sobre seu jogo de beisebol de ontem".
Sites como esses permitem que os pais criem "versões atraentes e afetuosas da história de uma criança", diz John Palfrey, professor da Escola de Direito na Universidade Harvard e autor de um livro sobre a primeira geração de crianças nascidas na era digital.
Mas ele alerta aos pais que postam detalhes sobre as vidas das crianças que deveriam se preocupar não só com quem lê as informações, mas com quem se torna dono delas. "Quer vejam assim, quer não, os pais estão contribuindo para o dossiê digital de seus filhos", ele diz. "E quem viria a ver esse dossiê mais tarde pode ser causa de preocupação".
Fonte: NY Times
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